segunda-feira, 23 de maio de 2011

Aventureiro (Texto de autoria de Diego Porciuncula)

Hoje decidi acordar no meio da madrugada e conhecer o vazio que existe depois da meia-noite. Levantei-me da cama e coloquei os pés descalços no chão. Não quis calçá-los ou me olhar no espelho e ajeitar os cabelos desarrumados. Estava ansioso para vagar no meio da escuridão.
Depois de abrir a porta de casa, segui em passos lentos e silenciosos. Senti o vento me beijar e o céu se abrindo sobre mim. Então, percebi que a madrugada não é tão vazia e quanto mais me permitia, o mundo tornava-se maior. Sim, o céu era tão escuro quanto a rua que me esperava ansiosa.
Continuei a caminhada na companhia das estrelas. Tão lindas, cheias de luz, de brilho ofuscante... Elas me conduziam todas de mãos dadas. Vi casas que se moviam, navios gigantes, quimeras, árvores falantes; ouvi sons silenciosos, e arrepios que desconcertam me vinham à pele.
A madrugada escura é um tempo sem intrigas. Tudo o que se esconde, se faz vivo na escuridão. Gritos, vozes, sombras e maçãs enormes olhavam para mim; folhas que ganharam vida, águas que corriam longe e cavalos marinhos. De repente, não havia distinção de mundo. Tudo era igual, tudo ganhara vida. Minha sombra tomava a frente de tudo sem repetir os meus gestos, meus olhos nem sequer abriam. Eu estava curioso e perplexo com esse novo lugar. Tão grande, cheio de pecados e exclamações!  Era vida, fantasia, alimento para a alma. Vi estátuas movendo-se; era loucura! Eu não queria voltar. Não naquela hora enquanto havia muito para ver e sentir.
Mesmo de pernas cansadas quis seguir. E eu ia... e eu ia... Gostaria de ir até o fim! Sei que havia muito a ser descoberto. Tinha visto formas sem tamanho, objetos com vida, moradas em movimento e eu sem nada a temer.
Permaneci absorto quando as estrelas me indicaram o momento de regressar. Enquanto refazia os passos de trás, as maçãs já não cresciam, os edifícios permaneciam inertes e apagados; procurava e já não encontrava cavalos marinhos. Minha sombra me acompanhava imitando os meus gestos em silêncio. Agora, estou ainda descalço no meio da rua deserta, com frio e sentindo arrepios. Estou voltando para casa, retornando ao meu corpo e então, venci os meus medos, aqueles mesmos que eu tinha de mim.
Diego Porciuncula é aluno do curso de Letras Vernáculas noturno da Universidade Federal da Bahia.
Blog de Diego: http://blogvidaeletras.blogspot.com/

3 comentários:

  1. Tenho um orgulho "retado" desse meu filho!!!
    Muito bom o conto!!!

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  2. Uau...!!! Obrigado pelo elogio Sarinha. Obrigado pela exposição do conto também!

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  3. Nossa Diego vc é um verdadeiro poeta meu querido seu texto está perfeito, sucesso em sua vida acadêmica

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